domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu recomendo: “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara”

Gente! Eu recomendo “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara”, a primeira história da série “A Bandeira do Elefante e da Arara”. É uma história sobre o fantástico brasileiro, com boitatá, saci, bandeirantes, escravos e um dragão africano. Foi publicada originalmente em abril de 2010 na revista norte-americana Realms of Fantasy. Em português saiu pela Devir no livro Duplo Fantasia Heroica. Pode ser encontrado em várias lojas . No blog Porteira da Fantasia, a escritora Simone Saueressig publicou resenha do livro. Cofiram:

“A ideia é interessante: o livro tem tamanho de bolso, a capa é bonita e resistente e o preço uma gracinha. Para completar, os volumes da coleção "Duplo Fantasia Heroica", do selo Asas do Vento, da Devir, trazem não uma única história, mas duas, de dois autores diferentes (afinal o título da coleção é bastante revelador neste sentido), o que oferece ao leitor costumeiro do gênero, a possibilidade de conhecer dois autores (se já não os conhecerem) e curtir duas histórias, com estilos de escrita bem diversos, com espaço diponível para agradecimentos, esclarecimentos e apresentações.O volume que abre a coleção traz as narrativas "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara", de Christopher Kastensmidt, e "A Travessia" de Roberto de Sousa Causo. Ambos exploram o Novo Mundo a partir da ótica da fantasia e vários blogues já falaram sobre eles, então acho meio difícil dizer algo novo. De certo, vou é chover no molhado. Mas, de guarda-chuva em punho e galochas postas, vamos lá.Bairrista que sou - ninguém ignora a meu discurso de "nossa Fantasia tem elementos tão maravilhosos quanto a Fantasia européia" - fiquei toda feliz em ler "O encontro fortuito de Gerard von Oost e Oludara". Primeiro porque Chirstopher Kastensmidt é norte-americano. É verdade que ele está há dez anos radicado no Brasil, vivendo e trabalhando em Porto Alegre, mas ainda assim Kastensmidt poderia muito bem se ater às influências culturais de suas origens e se esbaldar na Fantasia Heroica mais tradicional. Contudo, Christopher demonstra paixão e interesse pelo fantástico brasileiro. Seu conto não apenas fala sobre bandeirantes, mas também lança uma ótica sobre o mundo afro-brasileiro. Talvez ele esteja vendo o que muitos autores nacionais, que preferem mergulhar no imaginário de origem europeia, muito mais fácil e resolvido, preferem não ver: que a matéria prima para o Fantástico nacional é um continente a ser desbravado. Assim ele nos oferece a possibilidade de pensar em herois à brasileira, sem ter de passar, necessariamente por Macunaíma e seus descendentes culturais, amorais e debochados. Tudo depende, sempre, do que o autor quer dizer nas entrelinhas. Se Mário de Andrade e seus colegas de '22, ou os que vieram depois deles, estavam preocupados em provar que o Brasil é um país com um caráter, no mínimo, duvidoso (afinal Macunaíma é o "heroi sem nenhum caráter", o que nos leva a pensar que tipo de país pode ser representado por um personagem desses), alguns escritores que pipocam por nosso cotidiano estão interessados em demonstrar que com caráter ou sem ele, o Brasil é uma fonte deliciosa de criaturas mágicas.Chistopher fica no básico: boitatá e o saci, bandeirantes e escravos (e um dragão em terras africanas para temperar). São escolhas óbvias mas sábias: são de fácil acesso à qualquer leitor brasileiro (você não precisa ficar explicando muito quem eles são) e facilmente "pesquisáveis" (se autor ou leitores precisar de um suporte teórico mais amplo). O caso é que "O encontro fortuito..." é a primeira de muitas aventuras possíveis de Gerard e Oludara e é exatamente isso: uma apresentação. O assunto parece que renderá, pois Kastensmidt já editou esse mesmo texto no número de abril de 2010 da revista america "Realms of Fantasy" e está trabalhando em outros da mesma dupla de personagem. O simples fato disso ter acontecido, demonstra que o mercado internacional tem interesse em uma Fantasia diferenciada - desde que apresentada em um idioma que os leitores estrangeiros conheçam.Já "A Travessia", de Roberto Causo, mergulha ainda mais profundamente no mundo encantado da Amazônia, continuando a saga de Tajarê e Sjala, iniciada em "A Sombra dos Homens". Desta vez, o casal de protagonistas tenta voltar para a taba de Tajarê, atravessando uma floresta cheia de criaturas tão monstruosas quanto fantásticas, fruto da inventividade selvícola e do talento do escritor. Aliás, o que mais me chamou a atenção em ambos trabalhos de Causo foi justamente a capacidade de criação textual que ele oferece, incluindo uma prosa cheia de inventividade estética, poética e sensual, em um gênero que se distingue, muitas vezes, em premiar a ideia do enredo em detrimento da qualidade do texto. Se em "A Sombra dos Homens" Causo criou dois textos, um para contar a história da sacerdotiza viking perdida em terras brasileiras, e outro para o guerreiro tupi que a acolhe em sua taba e seu coração, em "A Travessia", o texto inerente ao guerreiro ganha mais espaço e força - e bem que o merece! Talvez um pouco mais desafiante para o leitor, é nesse quesito que "A Travessia" se sobressai à maioria. Poesia em forma de prosa, buscando os limites do idioma escrito para oferecer uma Fantasia brasileira com um texto em si mesmo fantástico, experimentando com a ideia, com o gênero e com o suporte idiomático.Afinal, não é só por se tratar de um mundo fantástico que o texto tenha que ser sem desafios - mas sim, ser um texto desafiante justamente por criar um mundo fantástico. O texto de Causo tem exatamente esse sabor.”

Visite o site oficial: http://www.eamb.org/brasil/

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